Abril 25, 2024

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Assim na vida como no futebol

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É certo e sabido que o futebol provoca sentimentos antagónicos, onde cada vez menos parece existir espaço para o meio termo, para o equilíbrio, para a racionalidade e coerência, ou se enaltece ou se rebaixa, ambos aplicados exageradamente.

Não sou especialista em áreas comportamentais, gosto muito de futebol e talvez por ter sido praticante, tenho dificuldades em perceber as barbaridades que são ditas numa semana, para que, na semana imediatamente a seguir se diga exatamente o contrário, como se já não restassem quaisquer resquícios de memória.

Vivemos numa época em que está na moda dizer-se que o grande problema são as redes sociais, que permitem o acesso facilitado a qualquer um, para que possa dizer aquilo que lhe apetece sem qualquer filtro porque se sente confortavelmente escondido atrás de um perfil, quer ele seja falso ou não.

Se por momentos refletirmos no assunto, rapidamente percebemos que o grande problema está na falta de educação, na falta de escrúpulos e na ausência de valores essenciais para podermos viver numa sociedade que se quer instruída e civilizada.

Enquanto apaixonado pelo meu clube, fico frustrado quando ele perde ou não lidera em todas as frentes, mas daí até criticar gratuitamente rivais que têm estado bem, que demonstram qualidade tanto individual como coletivamente, vai uma grande distância.

Neste capítulo todos são responsáveis pelos resultados alcançados, mas na minha opinião, os treinadores têm um papel fulcral, pois há muito que deixaram de tratar apenas a vertente técnica e tática, atualmente são uns autênticos líderes, motivadores, estrategas, dependendo da forma de liderar, muitos deles são também amigos e confidentes.

No exercício do cargo de treinador, tanto gosto do estilo sereno e intelectual, como gosto do emotivo e combativo e faz-me enorme confusão quando do nada se tratam mal estes profissionais que passam grande parte da vida ativa no fio da navalha.

Certamente não são todos, mas grande parte dos profissionais de uma qualquer área de atividade, não estão constantemente a serem escrutinados pela opinião publica, constantemente a serem avaliados e esmiuçados pelas suas atitudes e em muitos casos nem têm de apresentar resultados que justifiquem os seus honorários.

Muitos dizem que eles ganham bem para isso, pois para mim, quem profere tal afirmação diz muito daquilo que é, pois, uma coisa é a atividade profissional, outra é a exposição publica onde parece valer tudo e se dizem coisas sobre alguém que não conhecemos e que têm família e amigos para preservar como qualquer um de nós.

Enquanto escrevo estes desabafos sobre a difícil vida dos treinadores, tenho em mente dois, mas poderiam ser duzentos!

Um é treinador do principal rival do meu clube, Roger Schmidt, que restam muitos poucos elogios para lhe serem atribuídos, tanto na sua serena maneira de estar como nos resultados que a equipa que lidera apresenta. Muitos de vocês rapidamente dir-me-ão que ele ainda não experimentou o sabor amargo da derrota, ao que lhes respondo que tal facto por si só já é um grande elogio e quando esse cenário se colocar, aí teremos conteúdo passível de análise, até lá resume-se a uma simples constatação de factos.

O outro, treina o meu clube, Sérgio Conceição, este senhor não reúne tanta unanimidade, nem mesmo dentro do seu próprio clube, mas é alguém que pode ser acusado de tudo menos de falta de dedicação e empenho, de paixão contagiante e sentido de missão como poucos.

Além disto, não se pode ignorar que no plano técnico e tático é um autêntico camaleão, pois ano após ano, resultado de uma gestão diretiva pouco coerente das entradas e saídas de jogadores, reestrutura as suas equipas de acordo com os recursos que lhe são facultados, tornando-as supercompetitivas, intensas, pressionantes e quase sempre conseguem alcançar títulos, ou lutar por eles até ao final de cada uma das competições em que está inserido.

Para terminar e relativamente ao Sérgio Conceição, acrescento ainda que se tornou num alvo apetecível da comunicação social em geral, tal facto é percetível nas criticas que lhe são dirigidas, quando regularmente é fustigado pelas atitudes que adota, mas este é o preço a pagar por ser alguém cujo carater e genuinidade não é bem visto e aceite por aqueles que tal como escrevi no inicio, gostam de espezinhar o outro sem obter qualquer resistência, com Sérgio Conceição, não se pode contar com isso, quer seja adversário, adepto do seu próprio clube, ou ainda alguém ligado à sua entidade patronal. Para mim ter alguém assim à frente da equipa do meu clube do coração é um privilégio.

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