Janeiro 19, 2025

Canal Balneário

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Um olhar pela época da Oliveirense

Neste artigo, vou fazer o meu balanço da época da Oliveirense, o que correu bem, o que correu mal, e o que eu gostaria de ver em 2023/2024. Será, acima de tudo, um artigo de opinião.

A época da Liga Portugal 2 está no fim, faltando à data em que escrevo este artigo apenas os playoff de subida e descida. Pela primeira vez acompanhei de forma próxima a equipa da minha terra, da qual sou sócio, a Oliveirense.

A época e a tabela classificativa da Oliveirense

De uma forma geral, só posso considerar a época positiva. A Oliveirense terminou a época no 10º lugar da tabela numa Liga muito competitiva onde, semana a semana, os jogos são praticamente todos de “tripla” e os que lutam pela manutenção estão sempre ali com 1 ou 2 pontos de diferença entre si. A equipa de Oliveira de Azeméis termina 8 pontos acima da linha de água (43 pontos) e a certa altura a diferença do 10º para o 16º chegou a ser de 2 ou 3 pontos.

Evolução da classificação da Oliveirense ao longo da época

O factor casa preponderante na manutenção

A Oliveirense fez uma campanha caseira muito positiva e passaram-se meses até ter a primeira derrota em casa, que acabou por ser contra os grandes rivais do Feirense a 11 de março (0-1). Por outro lado, é preciso observar que não perder e ganhar são coisas diferentes: entre a vitória caseira na jornada inaugural frente ao Mafra (3-1) e a segunda vitória em casa (Covilhã por 2-0) passaram-se 6 meses! Foram 6 empates seguidos e já iremos às eventuais razões para os resultados. Apesar disso, a Oliveirense é a 7ª classificada no campeonato dos jogos em casa com 26 pontos e um saldo positivo de 6 golos. Fora fez 17 pontos e obteve um saldo negativo de 5 pontos.

Tabelas de performance em casa e fora, respetivamente:

Dentro das quatro linhas penso que Fábio Pereira fez uma omelete muito interessante com os ovos que teve. É sabido que a Oliveirense não nada em dinheiro e apostou, e bem, na base que trazia da Liga 3 contratando para colmatar saídas e reforçando sectores importantes como a baliza e o centro da defesa e o ataque. Gosto da estratégia de jogo que o Fábio Pereira monta e da forma como se tenta sempre adaptar aos adversários que encontra a cada semana, tentando ajustar pedras no meio campo consoante se antevê um jogo com mais ou menos bola nos pés dos oliveirenses. Na minha opinião, ainda que o treinador seja sempre o responsável nas vitórias e nas derrotas, Fábio Pereira tem um dedo importantíssimo nos sucessos da Oliveirense, mas parece-me que em boa parte dos momentos em que algo falhou não é justo apontar-lhe as culpas.

Escolhi os atletas + e os atletas – da época de forma a sustentar isto que aqui acabo de escrever.

Os Jogadores + da Oliveirense

Ricardo Ribeiro

O guarda-redes Ricardo foi uma excelente contratação pela experiência e pela qualidade que trouxe. Arrisco dizer que é um dos melhores guarda-redes da Liga e foi fantástico para a Oliveirense que o guardião tenha escolhido a clube como porta de regresso a Portugal.  Foram 31 jogos na liga com 45 golos sofridos, mas com defesas que valeram pontos, algumas delas nesses tais jogos em casa em que a Oliveirense esteve invicta durante larguíssimas jornadas. Desconheço a duração do contrato do Ricardo, mas vou partir do princípio que será de uma temporada e vejo com alguma dificuldade que a Oliveirense o consiga convencer a ficar, mas seria muito importante. Nuno Silva não é uma má alternativa, mas o misto de qualidade e experiência que o Ricardo traz são difíceis de encontrar.

Serginho

O Serginho é amplamente reconhecido como uma das boas surpresas da Liga Portugal 2 e especialistas como Luís Freitas Lobo já apontam insistentemente o médio à Primeira Liga. Uma vez mais desconheço se tem contrato para lá da época que agora termina, mas se tiver pode representar um encaixe interessante. Dificilmente ficará porque nota-se que tem uma visão e uma qualidade que o podem levar a outros voos. Fez 4 golos (alguns de belo efeito) e 3 assistências. Quando joga, o ritmo de jogo é outro e as perdas de bola a meio campo decrescem abruptamente. Quando não joga de início, entra quase sempre para mudar o jogo e torna-lo mais fluído. 

Volnei

A primeira volta que o Volnei fez foi incrível. Para mim um dos melhores e mais seguros centrais da Liga 2. Disse a quem quis ouvir que, para mim, a própria Liga principal tinha poucos centrais como ele. A segunda metade da segunda volta trouxe um Volnei diferente. Menos seguro com a bola nos pés e menos eficaz nas interceções, o melhor central da Oliveirense eclipsou-se um pouco na fase mais difícil da época quando os pontos tinham de aparecer e os adversários eram quase todos da metade de cima da tabela. 

Nos seus melhores dias, Volnei foi o esteio da defesa da Oliveirense, defesa essa que tremia muito sobretudo nas laterais onde se atacou sempre melhor do que se defendeu e onde o seu parceiro no centro, Rodrigo Borges, não transmitia grande segurança.

É jogador para mais do que uma Segunda Liga. Pertence aos quadros do Estoril e provavelmente ficará no clube ou deverá sair novamente para rodar num clube mais forte. E merece.

Duarte Duarte

Aos 35 anos Duarte Duarte já tem dificuldades em fazer 90 minutos ao mesmo nível, mas cada segundo que passou dentro do campo trouxeram à Oliveirense algo que mais nenhum elemento do plantel conseguiria trazer, principalmente no que toca à criação de oportunidades de golo. Figura de proa da campanha de 21/22 que trouxe a Oliveirense à Liga 2, Duarte foi novamente um dos destaques do plantel este ano com 7 assistências para golo e 5 golos por conta própria. Números impressionante para a idade que tem, sobretudo tendo em contas as zonas do terreno que pisa. Veremos o futuro do Duarte, mas será difícil de substituir e deixará saudades se decidir dar outro rumo à carreira.

Serginho Andrade

Um grande reforço de Inverno, Serginho Andrade veio do Estoril em janeiro para acrescentar imprevisibilidade e velocidade ao ataque da Oliveirense. Fez 15 jogos na Liga onde marcou 2 golos e assistiu 3. O extremo de 22 anos tem velocidade mas falta-lhe uma dimensão física fulcral para triunfar nos patamares mais altos do futebol, mas a qualidade está toda lá. Não é jogador de segunda liga mas veio a tempo de revolucionar o ataque e dar folego à Oliveirense para a segunda volta. 

Anthony Carter

Para mim o Carter foi a melhor contratação da época pelo que trouxe e ao mesmo tempo deixa-me alguma azia porque sinto que podia ter trazido mais. Anthony Carter chegou no fim de janeiro e no dia 29 de janeiro entrou aos 81 minutos do jogo com o Mafra para fazer o golo da vitória (aos 90). Disse logo ao que vinha. Marcou mais 3 golos nos 10 jogos que fez e ainda assistiu para dois. A sua capacidade de finalização, a mobilidade e o seu posicionamento eram exatamente aquilo que as soluções para aquela posição que estavam na Oliveirense desde o início da época não tinham.

Uma oportunidade de mercado muito bem aproveitada pela Oliveirense. Porém Carter teve 2 minutos que mancharam a sua carreira na Oliveirense: entrou aos 82 minutos de um jogo importantíssimo para a Oliveirense apenas para ser expulso menos de 2 minutos de pois e perder uma série de jogos por castigo. Fez muita, muita falta…

Este é o ponta de lança que a Oliveirense precisa nesta Liga onde reinam avançados possantes e, verdade seja dita, todas as outras alternativas no plantel eram de qualidade muito inferior e de um nível abaixo da Liga 2.

Os Jogadores – da Oliveirense

Jonata

Este jogador foi afetado por uma imensa tragédia pessoal com a morte do filho já com a época em andamento e, por isso, encontro alguma justificação para a má performance do jogador na épcoa. Chegou para ocupar uma lacuna na frente, onde não havia ninguém, mas pouco mais fez do que isso: ocupar o lugar. Fez 6 golos, é verdade, mas é preciso ver para além dos números. Falhou oportunidades incríveis em momentos cruciais que podiam ter rendido preciosos pontos. Em campo, sem bola, não é um jogador que se movimente da melhor forma e é frequente perceber que os colegas com bola não o “conseguem encontrar” nas zonas de finalização. Não dá trabalho aos defesas que, normalmente com uma dimensão física bem superior, conseguem ganhar a maioria dos duelos. Um jogador que até tem um curriculum de formação interessante, mas que esta época não conseguiu ter a melhor performance.

Rodrigo Borges

Chegado do Braga B, o Rodrigo cumpriu 31 jogos e, com 24 anos, certamente que terá uma carreira interessante porque é absolutamente incansável. Porém, achei-o muito inseguro com a bola nos pés, sobretudo quando Fábio Pereira insistia muito em sair a jogar de trás nos pontapés de baliza. Foram vários os calafrios que provocou. A defender, não esteve sempre mal, mas não confere a estabilidade que a Oliveirense tem de ter. Certamente trabalha para melhorar e na próxima época, se ficar, espero engolir as vezes em que lhe chamei nomes da bancada. Curiosamente, gostei sempre mais das exibições do Rodrigo quando o Volnei não jogava.

Os laterais

Nem vou individualizar aqui porque tenho mais ou menos a mesma opinião de todos. Pimenta, Maga, Gadelho e Kazu são incansáveis, lutam muito e são autênticos guerreiros. Tudo aquilo que eu quero ver nos jogadores que representam o clube. Porém, no futebol de hoje isso não chega. Espero ver a mesma garra e luta em 23/24, mas com outra evolução.

“Reforços” modelo para a Oliveirense

Vou deixar aqui 3 nomes que gostava de ver na Oliveirense em 2023/24. Os meus critérios foram a qualidade dos jogadores, a probabilidade de saírem jogadores dessas posições e o facto de serem da Liga 2. Não contemplei o aspeto financeiro. Sei bem que estes nomes são, provavelmente, fantasiosos enquanto reforços.

Domen Gril

Algo me diz que o Ricardo vai sair e eu gostava de um guarda-redes jovem e de qualidade. O Nuno Silva a titular não me tira o sono, mas Domen Gril encheu-me as medidas no jogo com a Oliveirense no Carlos Osório. A sua qualidade e idade apontam a outros voos, mas se antes quiser fazer escala em Oliveira de Azeméis, pode vir!

Rafael Barbosa

Desde o tempo dos múltiplos empréstimos que teve enquanto estava ligado ao Sporting que sou fã do Rafael Barbosa e do seu estilo de jogo. Sempre virado para a frente, a procurar os companheiros no ataque e com grande qualidade técnica. É quem eu gostava de ver a colmatar uma possível (e provável) saída do Serginho.

Roberto

“Mas o Roberto tem 34 anos!” Sim, mas fez 12 golos e 5 assistências. É mais do que o Jonata e o Carter juntos. Além disso a minha inclusão do Roberto aqui é mais a título de exemplo das suas características. Oportuno, bem posicionado e eficaz. É o que uma equipa como a Oliveirense precisa. Dias como o que tivemos no jogo contra o Feirense em casa não devem repetir-se. Passar o jogo no meio-campo do adversário a falhar oportunidade atrás de oportunidade, para uma equipa em que cada ponto vale ouro, são uma morte certa. Seja este Roberto ou outro “Roberto” qualquer, se Carter seguir viagem, a escolha deve recair em alguém de créditos firmados e não em incógnitas lotarias vindos de latitudes mais obscuras.

Quem se está a perguntar “então e o Miura?” saiba que deve procurar um outro artigo que escrevi aqui onde disse tudo o que o japonês traria ao clube. E não é para me gabar, mas não falhei numa linha.

Miura capitão da oliveirense
Duarte entrega a braçadeira a Miura
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